“ (...)porque um poema propriamente não tem significado, ele é o seu próprio significado. Por isso, os poetas são intraduzíveis. O poeta teria, em relação à linguagem , uma transa apaixonada e essa relação podia se manifestar de duas formas, uma forma masoquista e uma forma sádica. Essa paixão assumiria, em primeiro momento, uma forma masoquista. O poeta seria uma vítima da linguagem, a linguagem exerce uma violência sobre ele e ele sofre essa violência. Num outro momento, no momento sádico do processo, o poeta, o artista, o escritor, o criador, passaria a ser algoz, a ser carrasco da linguagem, e daí a inverter o jogo”. (Paulo Leminski)
Eu joguei pedra num poeta certa vez. Achei que a poesia era apenas armadilha, pretexto. Joguei pedras e incompreensão. Acusei de loucura, acusei de covardia. Aquele papo idiota de viajar pra dentro de si mesmo. Mas a rima sem rima me prendia. Uma dose de Jorge Luis Borges me embriagava. Mas mesmo assim eu teimava em acusar o poeta. Taquem pedra nele! Ele é louco. Ou se faz? Mas eu acho mesmo que a poesia dentro de mim gritava quando via aquilo tudo explodindo a cada noite, dentro dele. Gritava e sufocava pra sair também. Eu nem dava olhos, ouvidos. Ela ficou ali, quieta, guardando todo o rancor que pudesse juntar contra mim. Ficou ali dentro, observando, vendo meus deslizes, vendo meus sonhos e rindo de mim. Ficou lá e uma vez ou outra dava uma batida discreta na porta e fugia. E a filha da puta me deixou mesmo quando eu precisei. Quando eu tinha que escrever textos pra comprar pão (e ela sabia que ajudaria), simplesmente me abandonou. Daí fui eu quem gritou. “Vá embora, desgraçada. Quem precisa de você?”. Mas ela não foi. Ela ficou ali esperando meu choro, meu delírio, esperando mais um lamento, mais uma busca. E agora vem quando eu não quero, vem quando eu quero, vem quando estou no caos, vem quando estou na serra, vem quando eu quero noite, vem quando acordo dia. Eu dei liberdade a ela... e desde então vivemos assim. Na entrega espontânea. Quando ela vem eu me entrego, quando ela não vem, também.
3 comentários:
A poesia é o desnudar de nossas almas, ela tem vida própria dentro de nós.
Belo texto!
Bjs
mila
SHOWWWWWWWW...BOMBOU! PARABÉNS LÚ.É ISSO AI, SE SOLTA MULHER. Abraços...Morandi
A poesia é raiz e tudo que brota dela é escolha... o poeta, ao contrário, foi escolhido. Assim como algumas doenças escolhem seus parceiros para uma longa noite de dança e não tem dança sem par. A pedra que se joga é em muitas vezes a mesma pedra que nos fere, somos espelho. Porque poesia é vento que ora abriga e ora leva tudo de nós, reduz a pó o que era certeza e constrói seus castelos nas areias das dúvidas, não podemos viver nas sombras o tempo todo, mas sair no sol também arde. Não viemos aqui a passeio, mas podemos passear bastante até descobrirmos que a tal felicidade que procuramos, não mora fora de nós e nem naquele poeta que passa. Ela jaz aqui dentro onde só mora quem deixamos e onde nem sempre queremos estar pois sabemos melhor que ninguém o que tem lá dentro.
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