11 de setembro de 2006

Crônicas de Pedro - 27

Rosto pálido, olhos brancos e mãos que escorrem a água censurada do rosto. Pedro de veste de espera mas não consegue buscar seu dia de hoje. Sobrevive da fumaça presa de seu quarto que nao tem as frestas presentes de sua alma.
O ruído abafado das casas ao lado, os gritos, a música. Todos do lado de fora queimam sob o céu amarelo. Já não vê mais o verde das ruas do passado. A cidade quente de pessoas frias sufoca a vontade de Pedro se fazer pedra. No quarto, apenas um relógio vadio que corre mais que a avenida ao lado. Avenida que tem pressa, que engole a água da chuva tirada das casas baixas inundadas de calor.
Chove pouco e Pedro não chora. Sente a falta do frio, da chuva, do verde, das coisas em ordem, da hipocrisia escondida nas cores estampadas do rosto comum. Pedro, que se contenta com pouco, sem contento, esconde-se em baixo da cama com medo do passado; que ela possa vir e devolver o vermelho verde vida de seus olhos gravados nas pessoas espelhos. Suas mãos presas, mudas, seguram o desespero do ar tenso do quarto. Ar quente que derrete o tempo dos dias de Pedro, preso embaixo do chão. Nao tem vento. Sufocado, seu coração dispara para o medo da morte. É o único que grita, que vive dentro do corpo queimado de Pedro.
Segura o peito com as mãos e tenta tirar o ar que resta nas veias brancas. O vermelho foi embora. O branco apagado de seu corpo vive do coração que corre com pressa, que foje do céu amarelo sobre o telhado de vidro.
Pedro nao responde. Entrega-se aos poucos à insanidade do outro.
Pedro joga suas pedras pela janela fechada que entra água nos dias poucos de chuva.
Pedro nao pergunta. Seu corpo cálice estanca o sangue branco que entra pela cicatriz do peito. Um corte gravado pelo sol quente na pele frágil de sua infância. Apenas o coração dispara e a cicatriz estanca. As únicas marcas da vida de agora de Pedro. Vida que fora roubada e entregue as pessoas frias da cidade que derrete, mesmo na madrugada. Apenas o gosto rude do desprezo da alma habita o corpo de Pedro. O Padre reza o salmo do medo...
...
Quando acorda, seu quarto chove e os olhos verdes azuis vida refletem o coração calmo que pousa sobre o frio doce. Seu sangue vermelho dá alma a sua vida. Pedro fecha a porta e vai para o trabalho.

(eu em 11 de setembro de 2002 - um ano depois do ataque e um ano depois da decisão que marcaria toda minha vida)

8 de setembro de 2006

O que nao vejo

(deviantArt)
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O que não vejo
Sai dos olhos
Como se na mente
Nasce morre
Que escreve raso

O que não sinto
Salta o corpo
Sente a alma
De fogo apagado
E brasa mão

O que não sai
Da porta fecha
Que o medo deixa
Do grito olho
Escuro

O que não quero
Do frio do peito
Que a boca abre
E não diz nada

(eu... em 2002)