31 de março de 2010

alma brasa

Eu tenho sede de vida. Sede de uma loucura nova a cada dia. De uma paixão, de um projeto, de uma conquista, de um novo desafio. Não sei ficar parada, ficar quieta, ficar calada. Se não falo, se não choro, se não grito de felicidade, diante do mais singelo sorriso, não sou eu. Não sei viver no morno. Não sei viver no calmo. Não sei viver no meio termo. Eu me entrego inteira. Não tenho medo de tropeçar, de cair. E por mais que eu evite magoar alguém, não tenho medo de ousar, de dizer. Quero o hoje, quero o agora. O futuro? Se tiver tempo... Gosto do inteiro, do ousado, do intenso. Sou forte, mas choro. Sou doce, mas grito. Sou fera, mas acolho. Sou espinho, mas sou pura comedia romântica. Sou tudo. Se o projeto é morno, bota la no fim da fila, por favor (se tiver tempo, eu olho). Eu carrego o mundo nas costas, eu chuto o pau da barraca, eu rasgo o verbo. Mas eu amo. Amo tudo o que me cerca, de amor a primeira vista, ao amor incondicional. Sou exagero. Puro. Mas sou feliz assim. Tenho só essa vida. Me acompanha?

19 de março de 2010

Em mim

No pé descalço, o chão frio que me acolhe
No vento molhado, o calor das minhas manhãs de preguiça
Na pele que arde, o conforto das minhas paixões
Na areia que escorre, o tempo de hoje
Na estrada do parque, a busca incansável
No peito que nasce, a dor de ser maior
No meu inteiro, o grito de ser melhor
No meu consolo, o sorriso de ser menina
Nos meus braços, a vontade de se lançar
Na minha dança, o delírio de uma paixão
No meu relógio, a batida perfeita
No meu horizonte, meus detalhes, minha imperfeição e minha inquietude
Nos meus olhos, a sorte do futuro
Na minha esperança, meu dia de hoje
Na minha vida, a felicidade de ser inteira
Na minha alma, a busca constante por mais
Um pouco mais de mim, a cada dia, a cada paixão, a cada hora, a cada segundo.

18 de março de 2010

Crônicas de Pedro - 28

Pedro bate na porta. Ele volta como um bicho feroz, na velocidade do tempo perdido. Tempo vivido intenso, inteiro em todas as suas partes. Eu disse para Pedro tomar cuidado com as palavras, mas é ele quem me responde que as palavras é que devem ter cuidado com ele. No fundo eu sei que são as palavras que cuidam de Pedro. Ele me conta da urgência da vida, do verde preso nos olhos de pedra. Pedro se fez vidro, partiu, quebrou-se para virar rocha. Pedro ficou preso no peito que sempre se entrega. De entregas fáceis, fúteis, mas verdadeiras. Pedro se perdeu entre cartas, textos, esperas e hoje me cobra palavras a todo tempo. Mas eu não as controlo. Saltam aos olhos de vermelho vida, choro, repulsa, conquista. Pedro ficou abafado entre os amores, entre o trabalho, os cheques, o cheque-mate e o jogo da velha. Pedro espera agora os dias da vida urgente, corrida, intensa. Quer procurar seu caminho e se lançar ao mar. Pega seu barco e se coloca à devira nas águas calmas. Nem eu sei pra onde Pedro vai. Ele fica livre nas minhas palavras presas na garganta seca. Pedro sai na sua busca e não me diz se volta. Mas ele sabe que aprendi a viver sem pedra. Que as palavras embalem os sonhos de Pedro. Que a música embale os passos, os desejos e o impulso do pulso com vida, com cor, com cheiros e sabores. Que Pedro deixe a porta aberta para minhas palavras soltas, sem sentido, que teimam em escorrer pelo rio, a levar as maças, a transbordar meu copo e meu corpo. E que Pedro saiba que ele está aqui dentro, que me coloca pra cima, pra dentro de mim. Que ele me deixa feliz por ter voltado, por ter partido, por ter ficado em cada poro, cada pedaço, no meu inteiro.

(Pedro foi criado por mim em 1999, quando eu ainda estava na Faculdade e precisava de um personagem para os meus contos. Foi inspirada nas aulas de Redação e Expressão Oral, do professor Osvaldo Coimbra, que comecei a praticar a liberdade de escrever, fora de formas, de padrões, de contextos, de notícias. Em 2003, deletei todos os textos e cuidei do meu texto mais importante: meu filho. Restou apenas um conto (logo a baixo). Em 2006, numa cerimônia simbólica de batismo na aldeia Bororó, recebi um nome (não, não me arrisco a escrevê-lo em Guarani) que traduzido para o português significa Rocha Forte, que é exatamente o que Pedro é para mim, o que busco ser, apesar das pedras no caminho. Hoje, na busca por me libertar dos sentimentos, me encontrar de verdade e treinar uma nova forma de escrever, Pedro retorna, junto com outras formas, outras cores, outras vontades, outros textos).

Eu declaro

Eu declaro meu amor a borboleta que pousou em minha janela. Declaro meu amor as pequenas coisas, as grandes paixões. Declaro meu amor incondicional ao filho, a quem me dou por inteira, sem reservas. Declaro meu amor ao meu pai maior: o irmão que me ensina os pulos nos tropeços. Declaro meu amor ao meu pai pela metade, na sua forma inteira de me amar. Declaro meu amor a minha mãe, proteção e ponte das minhas inquietudes. Declaro meu amor aos verdadeiros amigos, que me completam nas minhas falhas e mesmo os que me falham quando busco minhas partes. Declaro meu amor aos que me rodeiam, aos que me odeiam, na sua pequenez, na sua incompreensão. Declaro meu amor ao amor que se foi, que me fez vidro quebrado e que me permitiu ser rocha. Declaro meu amor ao fora que dei, ao fora que levei, ao meu perdão constante, fruto da minha memória falha. Declaro meu amor a brasa que pisei, ao calo que me aperta o sapato, a pedra santa de todos os dias que me plantam no caminho. Declaro meu amor ao verde e azul que colorem meu ar. Declaro meu amor ao salgado da lágrima, ao doce do beijo, ao amargo da insensatez, ao azedo da loucura. Declaro meu amor ao meu corpo, a imagem no espelho que me sorri pelas manhas, depois de uma noite inteira de sonhos imperfeitos. Declaro meu amor à tortura do relógio, aos dias corridos e aos dias vagos, na rede, na varanda. Declaro meu amor ao amarelo das paredes, ao vermelho dos seus olhos. Declaro meu amor ao que tenho aqui dentro, ao que dorme no meu travesseiro, ao que carrego na bolsa, sob o sol e sob a chuva. Declaro meu amor ao meu deserto e a minha floresta descoberta. Declaro meu amor ao ser superior, que se coloca sob e sobre mim. Declaro meu amor ao meu amor, ao meu inteiro, a minha metade que me falta e me completa. E assim me declaro a vida, ao chão e ao céu.

17 de março de 2010

Não precisa de sentido não precisa de ponto não precisa de vírgula não precisa de interpretação não precisa de tensão não precisa de tesão não precisa de vontade não precisa de calor não precisa não não precisa de frio não precisa de saudade não precisa é claro loucura não precisa de inveja não precisa não não precisa de devaneios não precisa de incompreensão não precisa de ponto não. Precisa de paixão precisa sim de eternidade precisa sempre de amenidade precisa de vontade de desejo precisa sim precisa precisa de leveza de encontro de cerveja de pão de mel de relógio sem ponteiro de entrega e mais entrega e liberdade.

16 de março de 2010

aprendi

aprendi que escrever liberta e que prometer escraviza
aprendi que se eu perdoo é por pura falta de memória
aprendi que gosto mesmo de me entregar a tudo, com paixão!
qualquer coisa, ideal, motivo, sonho ou ficção merecem meu exagero.
arrisca?

Ao amor que ainda não veio!

 
Eu te esperei desde sempre. Te esperei desde o dia em que me olhei pela primeira vez no espelho e me reconheci menina. Te esperei sentada na varanda, olhando o tempo, perdida entre bonecas e quebra-cabeças. Quando atravessei a cidade para pegar um ônibus e encontrar aquele menino com cheiro de algodão doce. Mas não era você. Te esperei quando atravessei estados e vim parar aqui, nessa cidade grande, calma e egoísta. Quando desenhei no teclado a musica que você gostava. Mas eu ainda não sabia do seu gosto, do seu riso, do seu choro, da sua alegria. Te esperei quando dei meu primeiro beijo. Quando andei de mãos dadas e escondidas. Mãos ingênuas, de sentimento puro, de olhar calmo e curioso. Te esperei quando me descobri mulher pela primeira vez e quando me descobri sozinha logo em seguida. Te desenhei a cada novo amor, nova paixão, nova entrega. Te imaginei mandando flores, ligando no meio da noite, agitado, dizendo do amor maior que você sentia por mim. Te vi pelas ruas, absorto, perdido e encontrado. Te senti alegre, feliz, triste, tranquilo, inteiro. Senti suas dores na perda de alguém, no amor platônico por aquela garota. Te esperei naquele garoto que me prometia o mundo e que me ofereceu dias cheios, mas que logo mandei embora. Mandei para longe porque te sabia perto. Te consolei quando você perdeu o caminho, te dei colo quando você estava no escuro e comemorei com você uma nova cor em seu olhar. Sai de mãos dadas com o vento, te vendo perto. Senti você em meus cabelos, nas minhas mãos, na minha pele. Te senti quando vi meu desespero em descobrir um amor de mentira, num casamento perfeito. Senti seu colo, seu conforto e fiquei calma de novo. Fui te procurar naquele parque, por entre as arvores, no meu deserto. Te procurei no canto do meu quarto quente. Te achei no canto do meu peito, entre esperas e desilusões. Te senti menino e homem. Te imaginei os caminhos, sua vida, seu novo amor, seu trabalho. Te dei motivos, razoes, vida e cor. Te tirei o fôlego, o ar, o pulsar. Te devolvi pra vida, te esperando de novo. E te esperei sempre, no correr das minhas horas soltas e apressadas. Me afastei de você quando encontrei meu destino torto, daquele homem menino do tempo de escola. E te busquei ontem no choro abafado e contido quando ele me dizia que não sabia se me amava. E resolvi te esperar novamente. Imaginei você longe e perto, aqui do lado, aqui dentro, aqui inteiro. Te espero entre lençóis, entre papeis, sorvete, pipoca e cheiro quente de leite fervido. No doce do amargo chocolate. No riso do meu filho único, do meu amor incondicional. Te desejei com pressa, pra ontem, pra agora. Mas eu sei que você anda por ai e me espera também. Eu sigo meus dias completos porque sei que você está ai, do lado de fora da porta, esperando o sinal do sangue estancado no meu peito, da ferida esquecida. Eu sei que você me quer completa, inteira, com cores, com esse sorriso de menina que nunca cresce. Te espero para amanha, com o café pronto, o cabelo solto na manha de domingo, na preguiça e na loucura, na sanidade e na entrega. Te esperei ontem e te espero amanha. Eu espero o amor que ainda não veio. Saia do meu sonho, bata na porta devagar, entre vazio e se entregue ao meu amor maior.

de volta


me sinto cheia e preciso esvaziar meu copo.
enche-lo de café.
que bom estar de volta aqui.
descarregar a alma e os olhos.
o conforto pra mente e pro coracão. esse nao muda.
esse é sempre assim, entregue.
que bom estar de volta.