28 de dezembro de 2011

Gosto

de calma
de pressa
depressa
de doce
te transporto
de leve
de canto
te seguro
de onda
de quero
te carrego
no colo
de solo
te canto
te acalmo
de seguro
depressa
me faz
de sublime
de subida
te encontro
do gosto
de sempre
te espero

meias mentiras

O único mistério que gosto é de tentar desvendar o gosto da sua boca. O resto? Jogue no cesto, dispenso. Mistério, mentira, flerte do acaso com o destino, de quem se esconde atrás da porta e olha pela fresta, com medo. Atente-se. Arrisque uma verdade que me basta.

sem parar a queda

Quem se joga da janela, se abre para um universo novo de sentir. Quem se arrisca no abismo, descobre um novo olhar sobre o horizonte. De baixo da chuva, as gotas me deixam leve, me levam pra longe. Da medo sim, mas tenho sete vidas e cada uma delas precisa ser intensa, forte e única. Me tira o chão sim, me joga lá pro céu, sem pára-quedas, em queda livre. Se morre? Nunca. Amor de menos é que mata.

23 de dezembro de 2011

Crônicas de Pedro - 31

Pedro passa por aqui quando acordo e me cobra as folhas amareladas na gaveta. São ásperas e abafadas, mas são a razão de seguir que ele precisa para a despedida. São folhas do meu passado, onde Pedro virou pedra. Ele espera. Ele vai e não volta, mesmo quando peço. Só passa. Segue no desalinho, perdido, mesmo quando encontrado. Seu rosto tem a marca da bebida amarga e das palavras não ditas. Palavras (mal) ditas que desaceleram seu compasso. De passo lento, sai pela porta, mas me cobra de novo. Eu não tenho mais o passo de Pedro. Não quero o meio-termo. Quero que ele siga, mas que volte, hora ou outra, ora triste, ora inteiro. É dele que me faz a tela branca que aguarda uma nova pintura. É nele que me escondo quando a fé não move a montanha. Deixo Pedro ir embora para baixo do meu travesseiro e o adormeço com palavras soltas. Dorme quieto e não me acorda.

22 de dezembro de 2011

É o som que me transporta porta dentro. Que me tira do chão e me derruba pro ar. Do som doce e apertado do beijo que marca. Que tira e devolve o ar. Que arrepia, que sente, que entende, que espera. Da espera que vivo dentro do minuto. Que entrego ao tempo, do momento certo, do ponteiro exato, do portão fechado e do olhar aberto, atento. Meu hoje é pequeno porque meu ontem foi intenso. Meu agora é tudo e me basta.

21 de dezembro de 2011

"Haja hoje para tanto ontem"
Paulo Leminski

23 de novembro de 2011

da saudade

É fato
É ponto
É dorso
É norte
É seco
É tudo
É oposto
É deposto
De gosto
De fato
De noite
Te prendo
De fato
Te solto
Do gosto
Que é tudo
Deposto
Da mesa posta
De porta fechada
Vá e não volte

22 de novembro de 2011

carta

tem a textura de mão pálidas e calmas
tem um sabor doce, de nuvem, de tempo molhado
tem palavras soltas, com frases exatas,
certas de vontade, de chão, de leito
quem deita as palavras em uma carta
acorda a vida para todos os sentidos

21 de novembro de 2011

não tenho a calmaria de um dia à tarde sentada na varanda
o que tenho são cinzas da noite que queimou intensa
incenso que turva a janela quando olho para dentro
não tenho a brisa que corre na gota da chuva
o que eu quero é a imperfeição da pele marcada
e da palavra seca que me invade

meu calendário é de um dia só
que corre, de pressa se faz
e pára apenas quando as penas do meu travesseiro
avesso ao travesso, me deitam os olhos
nem paciência, nem montanha-russa, nem o morno do meio termo
me construo do novo
de nove pedaços que (re) parto e entrego

não tenho o som, não tenho a música
mas o que tenho dança comigo
no silêncio agitado do meu corpo aberto e trancado
que segura o rio que corre
e estanca a dor e a fome
que me leva, que me lava

não tenho a rima, a poesia decorada
o que tenho sai sem controle, sem conjugação certa, sem avisar
me incomoda a garganta e pronto

eu tenho a inquietude
tenho o infinito das possibilidades
porque carrego o universo dentro de mim.


3 de novembro de 2011

Tem um gosto doce. Tem um cheiro calmo. Tem um choque térmico. Tem um quê de alvo. Tem vontade. Tem misto. Tem desejo. Tem calma. Tem coração que dispara de manhã bem cedo. Tem café preto. Tem olho acordado. Tem mãos que dormem sobre o corpo. Tem calor e desassossego. Tem você, que tem a mim.

31 de outubro de 2011

É um gosto de areia que fica na garganta. E não há verbo que se conjugue. O tempo não escuta as preces e a minha pressa se refaz hoje, a cada instante. Pressa de largar para trás e secar o sol que abafa a janela. Nada do que se diga, estanca a dor de lá fora. O passado é teu, somente! Eu? Colho o orvalho de amanhã cedinho e nele (re)encontro o que me esperou ontem. Passou. Não tenho retrovisor e meus olhos saem, não entram mais. O que restou é esquecimento. O que fica é aquilo que corre na vala comum. Pensar é morfina. Jogue-se fora. Comecemos de novo.  Prazer, presente!

30 de outubro de 2011

Sem valor

A magia das palavras é aperitivo doce que sacia a alma inquieta. Mas é preciso cuidado. Quando a alma escorre lenta, a razão cai ladeira abaixo. O andar se torna turvo. O olhar se desliga. A atenção se dissipa e então a ironia é tiro certo, mas sem alvo. Em vão. Da maldade, o que se traduz é pálido, sem cor e sem sentido. Não adianta. Espere, observe e absorva. Um tapa na cara de quem perde ou esconde a razão é estupidez desnecessária que diminui, despreza e se perde. Plante uma árvore. E pronto. Deixe lá plantadas suas palavras decoradas e rasgadas de outros poemas. Para um bom entendedor, meio poema basta.

25 de agosto de 2011

eu me disparo
porta adentro
me tranque
não bato bem
me corre
que sofro de pressa
e me faz, depressa
que me transformo
agora
em uma outra

se sair.. fecha a porta!



16 de agosto de 2011

um desalinho

quando sou, escrevo e penso
que descaminho
que volto sempre
que jogo, que lanço
do laço desfeito
que dessamarra
quando me prende, respira e solta
não desanimo
que verde, azul, céu é sempre rosa
quando mesmo ausente
me segura a ponta
que desde sempre volta
e quando volta
desde quando espero e (des) espero


12 de agosto de 2011

de espera

Ele tem o dom de me acalmar.
Ele fala e tudo vira nuvem.
Seu toque é como uma brisa que me faz esperar de novo.
Quando me abraça, cada poro salta para fora e logo se recolhe para guardá-lo para sempre.
Ele tem a inteligência de um homem maduro e a alegria de uma criança que descobre o mundo.
Seu olhar me traz a paz que preciso.
Seu beijo me desliga, solta e me faz ir para outro mundo.
Ele me esperou em cada esquina.
Ele viveu, sonhou, caiu, se desfez e se fez inteiro para me viver.
Tenho a esperança de que cada segundo sem ele vale a pena.
Porque é dele que tenho minha eternidade.


p.s.: esse texto foi feito em 2011, para quem ainda não veio.

8 de agosto de 2011

sem pressa

É como uma letargia. O tempo parou e o trânsito passou por mim hoje. O sol subiu tão lento, como quem acorda com preguiça. O som apenas da respiração, entre as mãos. Tudo mais era inaudível. Sem sentido, sem vibração, sem som. Meu corpo parou no tempo e minhas mãos estavam lentas. Nos meus olhos, apenas o estático. Um segundo apenas que me roubou para uma eternidade. E tudo mais segue devagar. Sem pressa.


31 de julho de 2011

Lento

Si quieres un poco de mí
Me deberías esperar
Y caminar a paso lento
Muy lento

Y poco a poco olvidar
El tiempo y su velocidad
Frenar el ritmo, ir muy lento, más lento.

Sé delicado y espera
Dame tiempo para darte
Todo lo que tengo.

Si quieres un poco de mí
Dame paciencia y verás
Será mejor que andar corriendo
Levantar vuelo

Y poco a poco olvidar
El tiempo y su velocidad
Frenar el ritmo, ir muy lento
Cada vez más lento.

Sé delicado y espera
Dame tiempo para darte
Todo lo que tengo.

Si me hablas de amor
Si suavizas mi vida
No estaré más tiempo
Sin saber que siento.

Sé delicado y espera
Dame tiempo para darte
Todo lo que tengo.

26 de julho de 2011

sem sentido

O gosto das palavras quentes me acorda
do chão frio da sala me convidam
a passar a noite olhando pela janela
me despertam no meio da noite sem sono
quando saio me visto de palavras frias
de cores calmas, sem cor
quando pisco, saltam pelos olhos
como quem brota da chuva
é o gosto das palavras que são ditas
sem sentido
que me esperam
e me acalmam, trazem o sono
fecho a porta, desligo a luz e acordo

não tenho sentido, desses de dicionário
não há palavra que me decifre
nem verbo que me conjugue
sou frase solta, palavras sem rima, sem prosa
mas sou riso, conversa, dilema e espera
sou qualquer palavra
mas não sou nenhuma
sou qualquer coisa que se sinta, mas que não se explica
sou monossílaba
de palavras curtas e soltas
e só

22 de julho de 2011

Quando faz morada?

Entrou bem devagar, pelo canto do olho direito. Foi numa noite de frio de repente e eu confesso, estava mesmo esperando. Passava aqui por algumas tardes e pousava sobre a laranjeira. Eu, do alto da torre, fingia que observava a brisa leve, sem cor, sem cheiro e assim seguia forte, sem nada para abalar meu sono. Mas eu olhava, de canto de olho e piscava, para não entrar aqui dentro. Buscava e desviava. E passei a não buscar mais nada. Só pra garantir que quando quisesse entrar pelos olhos, eles estivessem abertos e atentos. E esperei. Li alguns livros, desliguei a janela. O sol se foi e o frio me empurrou para mais outro livro. E quando vi, entrou. Pelo canto do olho. E agora esta aqui, com pequenos movimentos no meu estomago. Batendo asas. Só para me lembrar de ficar de olhos ainda mais abertos, de me vestir de branco e de sorriso e de sonhar, antes de dormir.

21 de julho de 2011

É doce. É calmo e ligeiro. A qualquer momento te prende e lança, numa eterna confusão certeira. E não faça! Deixe passar. Às vezes fica, outras não. Tenha sorte. Boa calma!

8 de junho de 2011

um segundo

de pé na janela
do olho no espelho
do reflexo de fora
vejo a chuva
escorrendo mole
com preguiça
como quem beija
o gosto de nuvem
e saboreia o segundo

a chuva que escorrega
como quem segura
para nao cair
e marca como lesma
a janela que me reflete
que me escorre por dentro
e me fisga no tempo
parado
de um segundo


25 de maio de 2011

De vírgula

Não vivo de brisa. Vivo do forte intenso gosto de pressa e depressa e de novo. Não quero um porto seguro me solte na larga rua. Do cheiro do gosto perfeito e amargo do sol da janela do carro. Não divago nem ando devagar na hipocrisia da música que prende que rende. Nem sinto também porque não há tempo nem espera de seguir. Nem quero da mão seca um afago. Dispenso. Me pega a palavra solta e me dá uma vírgula. Ponto final eu já tenho.
é um desalinho só

24 de maio de 2011

desapego

É no descompasso do desespero que desapego
Do dissimulado e desiludido dissabor que desacredito
Discernimento do desfavorável que disserta o desalinhado
Já não acredito que desanimo no desafino posto
E me deparo com quem flerta do destino
E desamparado com disritmia segue a disputa
Da discordância do devaneio dissonante
Me dissolvo, me decoro, me devoras, e de costas sigo.

10 de maio de 2011

novo inquilino

decidi que vou morar dentro de mim
faz tempo que sai e nao voltei
ficava ali festando, festando
amar sempre foi uma festa
mas vou morar aqui agora
não é reforma, nem pausa
nem cansaço
é vontade de morar mesmo
de ter uma casa só minha
tirei o tapete da porta
mas logo ele fica limpo
e coloco de volta
por enquando, só eu aqui
nao é solidão também
é vontade de morar mesmo.