não tenho a calmaria de um dia à tarde sentada na varanda
o que tenho são cinzas da noite que queimou intensa
incenso que turva a janela quando olho para dentro
não tenho a brisa que corre na gota da chuva
o que eu quero é a imperfeição da pele marcada
e da palavra seca que me invade
meu calendário é de um dia só
que corre, de pressa se faz
e pára apenas quando as penas do meu travesseiro
avesso ao travesso, me deitam os olhos
nem paciência, nem montanha-russa, nem o morno do meio termo
me construo do novo
de nove pedaços que (re) parto e entrego
não tenho o som, não tenho a música
mas o que tenho dança comigo
no silêncio agitado do meu corpo aberto e trancado
que segura o rio que corre
e estanca a dor e a fome
que me leva, que me lava
não tenho a rima, a poesia decorada
o que tenho sai sem controle, sem conjugação certa, sem avisar
me incomoda a garganta e pronto
eu tenho a inquietude
tenho o infinito das possibilidades
porque carrego o universo dentro de mim.
Um comentário:
Muito lindo querida, em poucas linhas você descreveu uma manancial de palavras que acalma a alma.
Coisa linda de se ver, virei seu fâ.. abs
Jaime/Uno
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