21 de novembro de 2011

não tenho a calmaria de um dia à tarde sentada na varanda
o que tenho são cinzas da noite que queimou intensa
incenso que turva a janela quando olho para dentro
não tenho a brisa que corre na gota da chuva
o que eu quero é a imperfeição da pele marcada
e da palavra seca que me invade

meu calendário é de um dia só
que corre, de pressa se faz
e pára apenas quando as penas do meu travesseiro
avesso ao travesso, me deitam os olhos
nem paciência, nem montanha-russa, nem o morno do meio termo
me construo do novo
de nove pedaços que (re) parto e entrego

não tenho o som, não tenho a música
mas o que tenho dança comigo
no silêncio agitado do meu corpo aberto e trancado
que segura o rio que corre
e estanca a dor e a fome
que me leva, que me lava

não tenho a rima, a poesia decorada
o que tenho sai sem controle, sem conjugação certa, sem avisar
me incomoda a garganta e pronto

eu tenho a inquietude
tenho o infinito das possibilidades
porque carrego o universo dentro de mim.


Um comentário:

Jaime disse...

Muito lindo querida, em poucas linhas você descreveu uma manancial de palavras que acalma a alma.

Coisa linda de se ver, virei seu fâ.. abs

Jaime/Uno