23 de dezembro de 2011

Crônicas de Pedro - 31

Pedro passa por aqui quando acordo e me cobra as folhas amareladas na gaveta. São ásperas e abafadas, mas são a razão de seguir que ele precisa para a despedida. São folhas do meu passado, onde Pedro virou pedra. Ele espera. Ele vai e não volta, mesmo quando peço. Só passa. Segue no desalinho, perdido, mesmo quando encontrado. Seu rosto tem a marca da bebida amarga e das palavras não ditas. Palavras (mal) ditas que desaceleram seu compasso. De passo lento, sai pela porta, mas me cobra de novo. Eu não tenho mais o passo de Pedro. Não quero o meio-termo. Quero que ele siga, mas que volte, hora ou outra, ora triste, ora inteiro. É dele que me faz a tela branca que aguarda uma nova pintura. É nele que me escondo quando a fé não move a montanha. Deixo Pedro ir embora para baixo do meu travesseiro e o adormeço com palavras soltas. Dorme quieto e não me acorda.

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