19 de janeiro de 2012

Conto de fadas?

Você mal sabe pronunciar seu nome e lá vem sua mãe contando estorinhas pra dormir. A intenção é boa mas, é aqui que todo nosso problema começa. Os nomes são muito estranhos: Branca de Neve, Cindelera, Rapunzel. Fala sério? Tem alguma amiga sua com esse nome? Pelo menos nesse quesito nossas benditas mães tiveram bom senso. Dai, lá vem: o príncipe montado em um cavalo branco, com uma espada para te defender da bruxa má (não! Não vou dizer que podiam até ser as nossas próprias sogras porque eu tive a sorte de ter sogrinhas maravilhosas! Mas também né? Com uma nora espetacular como eu...). O príncipe é o mais bonito, tem olhos azuis (já reparou que nenhum príncipe é negro? Não nessas estórias). Engraçado que minha mãe, pelo menos, nunca me dizia se esse ou aquele príncipe era inteligente. Os dotes físicos valiam mais. A estória sempre tinha um final feliz. Bingo! Mal sabe a nossa boa mãezinha o mal que nos fez. Plantou a sementinha de que quando pintar o primeiro cara bonito e legal, seremos felizes para sempre. E quando você se apaixona pela primeira vez? “Mãe! Você não está entendendo! ESSE é o grande amor da minha vida. Eu NUNCA MAIS vou amar alguém assim”! Pronto! Viramos motivo de piada. Mas, gente! Ele não é o tal príncipe? Te deu o primeiro beijo, você jura que vai casar virgem com ele e a sua mãe ri da sua cara e ainda tem a ousadia de dizer que esse não será o primeiro e nem o último? “Oi, mãe? E o lance de casar virgem?”. Enfim. O grande amor da sua vida, no auge dos seus 14 anos, não dura mais que um verão. Ele acaba trocando olhares com uma outra garotinha sem peito, sem bunda e sem sal (eu também não tinha nem peito, nem bunda – aliás, naquela época, você, nessa idade, tinha? Acho que não. Talvez por isso a lei de Darwin tenha alterado as coisas – já sabia que a seleção masculina iria se atender a esses dois detalhes!). As aulas retornam e você arrasada porque o garoto do primeiro beijo nem olha mais para sua cara. Esconde seu rosto nos livros e torce para que nenhum outro ser veja a tristeza estampada nos seus olhos. E é com o rosto escondido num livro que um nerd te acha interessante. Vem e comenta sobre esse tal livro que você na verdade nem tava lendo. Dai você percebe que o príncipe encantado pode estar escondido atrás daqueles óculos fundo de garrafa e aquele bando de espinha no rosto. (Eca! Só vou beijar na boca, porque beijar no rosto, tá dose!). Você embarca num outro livro e num outro e num outro. E vira a sensação nerd do pedaço. Os garotos inteligentes estão aos seus pés e os bonitos, desprovidos de neurônio, também! (Aráaa! Tá vendo só? É aquela tal teoria de que quando você está acompanhada, todos os homens te percebem! Eles pensam: “ow! A mina deve ser massa, hein?”). Se você teve a sorte de nascer com os olhos claros (como euzinha!), maravilha. Se você teve a mega sorte de não engordar um grama mesmo comendo qualquer tipo de carboidrato, vá por mim: nasceu virada pra lua, gata! Eu confesso: me acho linda mesmo! Tenho celulite há anos, estrias que eu crio com carinho, uma barriga fofa, mas aquela bruxa lá do espelho da Branca de Neve, certeza que ela morre de inveja da minha beleza. (sorte mesmo, vai por mim, é ter amor próprio, baby! Ame-se, acima de tudo e você já tem meio caminho andando para viver um grande amor!). Voltando a turminha nerd... você vira uma devoradora de livros. Leu todos e aos 18 anos é praticamente uma analista social das grandes mazelas humanas e das grandes paixões que movem o universo. Jura que entende os questionamentos de Nietzsche, leu “As flores do mal”, de Baudelaire, de cabo a rabo, sente o amor profundo e dilacerado de Vinicius, Neruda e se encanta com a poesia sem rima, sem lógica mas repleta de significados de Jorge Luis Borges. Mas você se pega pensando naquele príncipe encantado, subindo a masmorra e te salvando, lá em cima. E você jura que se você for inteligente, vai ser mais esperta pra conquistá-lo, afinal de contas, ta cheio de princesinha por ai, bronzeada de sol e que, ao invés de ficar com a bunda sentada na biblioteca, passava horas malhando a.. adivinha? E acredita, seriamente, que a inteligência vai ser uma grande vantagem competitiva. Dai, vem sua mãe, frustrada porque passou a vida inteira cuidando dos filhos, sem trabalhar fora e começa a botar pilha: “minha filha, voce precisa ser independente. E você olha para as revistas (não! As de fofoca, nunca! Você lê Caros Amigos, Cult , Info, Você SA e até arrisca ver Vogue) e percebe que sua mãe ta coberta de razão (até que enfim, hein, mãe?). Meta aos 23? Seu próprio carro, dar entrada naquele apê e ainda sobrar um trocado pra Heineken da balada (mas só balada Cult, porque você tem conteúdo, não quer nem dar de cara com uma Patty!). Pronto: você é inteligente, independente , bonita (linda, para quem tem o amor próprio bem resolvido). Gente! Se é verdade que ta faltando homem no mercado, qual é o problema? Eu ganho a parada fácil, fácil. E aparece outro nerd, o cara lindo que jura que conhece alguma amiga de uma amiga sua pra chegar junto, o poeta, com dúzias de flores e poemas, todas as manhãs, o professor da facul ou da pós que você acha mesmo, de verdade, que ele tambem leu tudo o que Leminsky escreveu, ou aquele cara que busca a simplicidade das pequenas coisas (você, que queria coisas grandiosas, até abaixa um pouco pra ver se a joaninha, na grama é realmente tão singela), e vem outro, outro. E você percebe que sua mãe tava errada de novo. (opa, calma! Mãe não se xinga! ). Mas nem tudo está perdido. Se você é tão inteligente assim, cola em mim, nesse momento: baby! Vamos lá. Roteiro e script na mão! Claquete! Basta fingir! É fácil! Finja que você não é tão inteligente assim. Se o cara te chamar pra ver o filme do Almodovar, pode parar! Nada de listar todos aqueles filmes surreais que você simplesmente amou. Soletre o nome dele de forma errada. Tipo: Almodováaar? Chamou pra ver Missão Impossivel 9, diga: Claro, o Tom é lindo demaaaaais! Decore todos os cantores da moda: High School Music, Justin Biber, e.. ai gente, pesquisa ai no Google porque eu não sei direito nem como escreve isso! E nada, nada de cantar a musiquinha no inglês perfeito! Cante errado e jure que os 6 anos de inglês não te serviram pra sacar que esses caras não cantam nada. Porque cantar música que adolescente curte? Vai por mim! Faz cara de doce menina ingênua. Os homens adoram. E nunca, nunca mesmo diga que você está fazendo pós, que quer fazer mestrado, que tem seu próprio carro e que paga, com dinheiro bem suado, a prestação do seu apartamento.Tá gostando do cara? Acha que esse vale a pena? Nada de bancar a sincera e verdadeira e falar de cara que ta gostando. Burras não gostam, elas ficam. Inteligência, atitude, maturidade e intensidade assustam! Pronto. Vai ter uma noite incrível! E pode ate namorar o cara por meses a fio. Vai ser feliz? Vai amar o cara de verdade? Baby, você já está acompanhada. Não ta sozinha. Quer mais que isso? Fala serio! E depois de tanto treinar a ser fútil não lembro mais onde foi que eu li que o que mais importa nessa vida é o valor que você tem, isso que você tem ai dentro e que você não deve jogar fora, por nenhum carinha qualquer. Ih, lascou! Foi num livro de auto-ajuda? Não creio! Minha inteligência, meu auto-controle e minha confiança ficaram onde?  Dá tempo de recuperar? Claro! Vai por mim! E mesmo que você não acredite num grande amor da sua vida, ele vai aparecer e vai amar cada detalhe que você traçou, viveu, chorou, sentiu. Cada fora que você levou e deu. Cada beijo intenso e único que você entregou. Cada verbo que você rasgou. Esse, sim. Esse homem, vale a pena!

3 comentários:

Marcia Scherer disse...

Essa é a mulher que mesmo naqueles dias "tensos" sempre tem uma gargalhada contagiante!!! Mto bom Lu, mto bom mesmo!!!

Srta. Aguiar disse...

Depois dizem q nós somos complicadas?! Ruim hein.

Clarice Mesquita disse...

Nossa Lú matou a pau!!! Esse é o tipo de texto q faz a gente ficar refletindo...parabéns!