16 de março de 2010

Ao amor que ainda não veio!

 
Eu te esperei desde sempre. Te esperei desde o dia em que me olhei pela primeira vez no espelho e me reconheci menina. Te esperei sentada na varanda, olhando o tempo, perdida entre bonecas e quebra-cabeças. Quando atravessei a cidade para pegar um ônibus e encontrar aquele menino com cheiro de algodão doce. Mas não era você. Te esperei quando atravessei estados e vim parar aqui, nessa cidade grande, calma e egoísta. Quando desenhei no teclado a musica que você gostava. Mas eu ainda não sabia do seu gosto, do seu riso, do seu choro, da sua alegria. Te esperei quando dei meu primeiro beijo. Quando andei de mãos dadas e escondidas. Mãos ingênuas, de sentimento puro, de olhar calmo e curioso. Te esperei quando me descobri mulher pela primeira vez e quando me descobri sozinha logo em seguida. Te desenhei a cada novo amor, nova paixão, nova entrega. Te imaginei mandando flores, ligando no meio da noite, agitado, dizendo do amor maior que você sentia por mim. Te vi pelas ruas, absorto, perdido e encontrado. Te senti alegre, feliz, triste, tranquilo, inteiro. Senti suas dores na perda de alguém, no amor platônico por aquela garota. Te esperei naquele garoto que me prometia o mundo e que me ofereceu dias cheios, mas que logo mandei embora. Mandei para longe porque te sabia perto. Te consolei quando você perdeu o caminho, te dei colo quando você estava no escuro e comemorei com você uma nova cor em seu olhar. Sai de mãos dadas com o vento, te vendo perto. Senti você em meus cabelos, nas minhas mãos, na minha pele. Te senti quando vi meu desespero em descobrir um amor de mentira, num casamento perfeito. Senti seu colo, seu conforto e fiquei calma de novo. Fui te procurar naquele parque, por entre as arvores, no meu deserto. Te procurei no canto do meu quarto quente. Te achei no canto do meu peito, entre esperas e desilusões. Te senti menino e homem. Te imaginei os caminhos, sua vida, seu novo amor, seu trabalho. Te dei motivos, razoes, vida e cor. Te tirei o fôlego, o ar, o pulsar. Te devolvi pra vida, te esperando de novo. E te esperei sempre, no correr das minhas horas soltas e apressadas. Me afastei de você quando encontrei meu destino torto, daquele homem menino do tempo de escola. E te busquei ontem no choro abafado e contido quando ele me dizia que não sabia se me amava. E resolvi te esperar novamente. Imaginei você longe e perto, aqui do lado, aqui dentro, aqui inteiro. Te espero entre lençóis, entre papeis, sorvete, pipoca e cheiro quente de leite fervido. No doce do amargo chocolate. No riso do meu filho único, do meu amor incondicional. Te desejei com pressa, pra ontem, pra agora. Mas eu sei que você anda por ai e me espera também. Eu sigo meus dias completos porque sei que você está ai, do lado de fora da porta, esperando o sinal do sangue estancado no meu peito, da ferida esquecida. Eu sei que você me quer completa, inteira, com cores, com esse sorriso de menina que nunca cresce. Te espero para amanha, com o café pronto, o cabelo solto na manha de domingo, na preguiça e na loucura, na sanidade e na entrega. Te esperei ontem e te espero amanha. Eu espero o amor que ainda não veio. Saia do meu sonho, bata na porta devagar, entre vazio e se entregue ao meu amor maior.

Nenhum comentário: