18 de março de 2010

Eu declaro

Eu declaro meu amor a borboleta que pousou em minha janela. Declaro meu amor as pequenas coisas, as grandes paixões. Declaro meu amor incondicional ao filho, a quem me dou por inteira, sem reservas. Declaro meu amor ao meu pai maior: o irmão que me ensina os pulos nos tropeços. Declaro meu amor ao meu pai pela metade, na sua forma inteira de me amar. Declaro meu amor a minha mãe, proteção e ponte das minhas inquietudes. Declaro meu amor aos verdadeiros amigos, que me completam nas minhas falhas e mesmo os que me falham quando busco minhas partes. Declaro meu amor aos que me rodeiam, aos que me odeiam, na sua pequenez, na sua incompreensão. Declaro meu amor ao amor que se foi, que me fez vidro quebrado e que me permitiu ser rocha. Declaro meu amor ao fora que dei, ao fora que levei, ao meu perdão constante, fruto da minha memória falha. Declaro meu amor a brasa que pisei, ao calo que me aperta o sapato, a pedra santa de todos os dias que me plantam no caminho. Declaro meu amor ao verde e azul que colorem meu ar. Declaro meu amor ao salgado da lágrima, ao doce do beijo, ao amargo da insensatez, ao azedo da loucura. Declaro meu amor ao meu corpo, a imagem no espelho que me sorri pelas manhas, depois de uma noite inteira de sonhos imperfeitos. Declaro meu amor à tortura do relógio, aos dias corridos e aos dias vagos, na rede, na varanda. Declaro meu amor ao amarelo das paredes, ao vermelho dos seus olhos. Declaro meu amor ao que tenho aqui dentro, ao que dorme no meu travesseiro, ao que carrego na bolsa, sob o sol e sob a chuva. Declaro meu amor ao meu deserto e a minha floresta descoberta. Declaro meu amor ao ser superior, que se coloca sob e sobre mim. Declaro meu amor ao meu amor, ao meu inteiro, a minha metade que me falta e me completa. E assim me declaro a vida, ao chão e ao céu.

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